quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A Literatura de cordel e os poemas populares

A Literatura de Cordel começou a ser praticada no Nordeste no século XVII, mas sua origem provém de Portugal. Esse nome deve-se ao fato de que os folhetos ficavam expostos em um barbante ( cordel ) para sua comercialização. A de Literatura de Cordel sempre foi o jornal do homem sertanejo, no Nordeste do Brasil, até o aparecimento do rádio e da televisão. Esses folhetos são feito em papel de baixa qualidade e produzidos por poetas populares nordestinos, são lidos por pessoas humildes, sendo vendidos nas feiras livres e mercados, pendurados em um cordão ou postos em cima de caixotes. Os temas que são abordados nesses folhetos são diversos, como os valentes, os covardes, os preguiçosos, os vaqueiros, as lendas, os mitos nordestinos, as tragédias, as adivinhações e os personagens importantes de nossa história, bem como os textos contendo piadas.
Vários nomes se destacaram como cordelistas: O poeta paraibano Leandro Gomes de Barros, um dos mais antigos que escreveu “A História do Boi Misterioso” e muitos outros cordéis que são publicados até hoje; Firmino Teixeira do Amaral, esse do Piauí que escreveu inúmeros cordéis, sendo o mais famoso “ A Peleja do Cego Aderaldo com Zé Pretinho do Tucum”; Manoel de Almeida Filho, um Paraibano que viveu muito tempo em Aracaju, também escreveu diversos livretos, sendo um dos mais famosos “Os Cabras de Lampião”; João Firmino Cabral, sergipano de Itabaiana, autor de vários folhetos de cordel como, “Profecia de Padre Cícero” e “A Coragem de um Vaqueiro em Defesa do Amor”.
Os poemas populares diferem da Literatura de Cordel nos seus temas e na quantidade de versos do texto. Antônio Gonçalves da Silva, conhecido como “ Patativa do Assaré ” apesar de ser cordelista e autor de vários livretos, ficou conhecido como poeta social, pela autoria da “A Triste Partida”, logo depois transformado em música e gravado pelo sanfoneiro Luiz Gonzaga, o qual deu vida ao maior poema social do Nordeste, propagando aos quatro ventos através de sua popularidade musical no qual se conta da miséria nua e crua de uma família de retirantes nordestinos para o Sul. Patativa, mesmo sem ter o primeiro grau completo, tem uma visão social incrível e seus poemas são estudados na Sorbone, na cadeira de Literatura Universal, sob a regência do professor Raymond Contel. Outro poeta famoso é o violeiro paraibano Pedro Bandeira, autor do livro “Luiz Gonzaga na Literatura de Cordel ”, formado em Direito e Letras Clássicas pela Faculdade de Crato-Ceará, autor de vários poemas e considerado o príncipe dos poetas pela imprensa nacional.
A Literatura de Cordel e os poemas populares são importantes, pois além de constituírem uma fonte de ensinamentos para o estudo da nossa língua, ainda mostra os problemas sócio-culturais com a maior naturalidade, pois não existe nela uma censura, ou seja, nessa literatura estão todos os sentimentos e alegrias da vida de nossa gente. É nessa escrita popular que está a verdadeira história da gente simples do Nordeste.
No Brasil, onde é comum o descaso com as raízes, principalmente quando se trata desse de linguagem popular, a Literatura de Cordel e os poemas populares ainda resistem com muita dificuldade, registrando a linguagem do matuto do sertão, vista como cultura inferior, por pessoas que desconhecem a beleza de seus versos autênticos.

(*) José Augusto de Almeida
Professor da Universidade Federal de Sergipe
( artigo publicado no Jornal da Cidade em 10/07/1995 )

2 comentários:

  1. Valeu Zé. Seu blog está com uma interface bem legal. Combimou com seu estilo. Que seu blog seja um instrumento em suas mãos para divulgar a cultura nordestina, da qual, você é um grande conhecedor. Parabéns. É bom aprender com a literatura de cordel, a linguagem utilizada por ela trás vários ensinamentos para todos.
    Messias.

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